A Psicologia do Caos: Por Que o Pior Cenário Sempre Parece Mais Real?
- Pedro Gatti Lima
- há 4 dias
- 2 min de leitura

“Tragédia vende jornal.”
A frase dita na série Tremenbé (Amazon Prime) é mais do que um comentário sobre mídia: é um espelho incômodo sobre como funcionamos emocionalmente.
Somos atraídos por acidentes, crimes, escândalos e por qualquer narrativa que provoque susto, choque ou indignação. E isso não acontece apenas quando consumimos notícias — acontece também dentro de nós.
O fascínio pelo proibido
Nosso cérebro foi moldado para detectar ameaças. O que é perigoso se destaca.
Por isso, o proibido excita, o desvio intriga e o que é “errado” parece mais vivo que o cotidiano. Daí o sucesso de histórias de vilões, do true crime e do charme estranho de personagens transgressores.
Existe uma adrenalina silenciosa em tudo que foge da norma.
O drama como estratégia de significado
No cotidiano, repetimos essa lógica sem perceber:
exageramos pequenas dificuldades,
transformamos obstáculos em epopeias,
criamos microtragédias para sentir que estamos vivendo “algo grande”.
É uma maneira de nos tornarmos mais interessantes — para os outros e para nós mesmos.
Queremos ser lembrados, notados, ouvidos. E nada captura atenção tão rápido quanto um drama.
Catastrofismo: quando a tragédia vira hábito mental
Mas não é só narrativa externa.
Muitas vezes, o drama acontece antes da história existir.
Chamamos isso de catastrofismo: a tendência de simular mentalmente o pior cenário possível — mesmo sem evidências.
É como produzir, dirigir e assistir ao próprio filme de terror interno.
E o corpo acredita.
Ele reage como se tudo fosse real:
acelera o coração,
libera cortisol,
gera ansiedade e tensão,
desgasta antes mesmo que algo aconteça.
Vivemos ameaças imaginárias com a mesma intensidade que viveríamos ameaças reais.
O problema?
Quase nenhum desses cenários se concretiza.
Mas o desgaste fica.
O custo emocional de viver em modo tragédia
Quando nos habituamos ao drama — interno ou externo — criamos um ciclo que nos consome:
tornamo-nos dependentes da intensidade,
perdemos a capacidade de tolerar o tédio,
alimentamos conflitos imaginários,
deixamos a vida real parecer “pouca”.
E o que é calmo, estável e simples passa a ser visto como insignificante — quando na verdade é ali que mora o bem-estar.
A psicoterapia como antídoto
Na terapia, aprendemos a reconhecer esse padrão:
quando estamos exagerando a narrativa,
quando estamos ensaiando tragédias internas,
quando estamos seduzidos pela adrenalina do caos.
É um espaço para compreender por que o pior caso nos atrai e por que o silêncio às vezes assusta mais do que o problema.
A psicoterapia ajuda a desmontar o hábito da catástrofe e a reencontrar significado sem depender do drama.
Porque, ao contrário do que o algoritmo — e nossos medos — insistem em dizer, a vida não precisa ser trágica para ser intensa, nem precisa ser caótica para ser verdadeira.
Às vezes, o que transforma é justamente o oposto:
Constância, calma e escolhas conscientes.








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