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Projeção e Idealização: como nossas fantasias influenciam os relacionamentos

Projeção e Idealização

Nos vínculos humanos, é comum que projetemos nos outros partes de nós mesmos — aspectos que, muitas vezes, não conseguimos reconhecer ou aceitar em nossa própria subjetividade. Na projeção, colocamos no outro nossas frustrações, nossos erros e até aquilo que consideramos inadequado em nós: nossa rigidez, intolerância, passividade, impulsividade ou qualquer outro traço difícil de lidar. Assim, o outro — seja um parceiro, mãe, pai, professor ou colega de trabalho — torna-se o "portador" daquilo que nos incomoda em nós mesmos.


Além disso, ao projetar, esperamos inconscientemente que o outro se comporte da maneira como nós mesmos agiríamos em determinada situação. Criamos um padrão imaginário e esperamos que o outro se encaixe nele. Quando isso não acontece — quando o outro reage de forma diferente do que esperávamos — a reação pode ser de raiva, ressentimento, frustração ou decepção. Não conseguimos lidar com a diferença do outro porque, na verdade, o que está em jogo ali não é exatamente ele, mas sim uma parte de nós que foi colocada fora, como se não nos pertencesse mais.


É também muito comum projetarmos sobre uma nova pessoa os vínculos que tivemos no passado — com nossos pais, irmãos ou antigos relacionamentos. Reagimos como se estivéssemos revivendo uma história anterior, repetindo dinâmicas já conhecidas, mesmo que a situação atual seja diferente. O parceiro ou parceira de hoje, por exemplo, pode ser visto com os mesmos olhos com que víamos um pai ausente, uma mãe crítica ou um relacionamento marcado por rejeição. Essas projeções moldam nossas expectativas e reações, muitas vezes sem que percebamos.


A idealização, por sua vez, é outra armadilha relacional, e muitas vezes caminha junto da projeção. Nela, colocamos o outro num pedestal, como se fosse alguém superior, detentor de todas as respostas, fonte de segurança, sabedoria e, por vezes, até da nossa própria felicidade. Ao fazer isso, automaticamente nos colocamos numa posição de inferioridade, de insuficiência. É como se disséssemos: “Eu não sei, mas ele sabe”; “Eu não posso, mas ele pode”; “Eu não sou capaz, mas ele é”.


Esse tipo de vínculo idealizado pode parecer confortável no início — afinal, há alívio em delegar ao outro o peso das decisões ou da responsabilidade pela própria vida. Mas, com o tempo, torna-se insustentável. A pessoa idealizada não corresponde ao ideal projetado (porque ninguém é perfeito), e, ao mostrar sua humanidade, pode gerar no outro sentimentos de traição, decepção ou abandono. É o desmoronamento do pedestal.


A idealização, no entanto, não se restringe apenas a pessoas. Também podemos idealizar lugares — como se mudar de cidade ou país fosse resolver todos os problemas — ou tempos futuros: “quando eu me formar”, “quando eu conseguir aquele emprego”, “quando eu estiver num relacionamento”, “quando eu chegar lá, tudo vai ser melhor”. A promessa é de que, em algum ponto fora do presente, finalmente encontraremos plenitude. Mas isso muitas vezes adia o enfrentamento das questões que estão aqui e agora, no nosso modo atual de ser e viver.


Tanto a projeção quanto a idealização dificultam um encontro real com o outro e com a vida como ela é. Em vez de enxergar quem está diante de nós como uma pessoa inteira, com limites e potências próprias, acabamos nos relacionando com uma imagem — uma extensão dos nossos desejos, medos e carências.


A psicoterapia pode ser um espaço importante para perceber essas dinâmicas e compreendê-las com mais profundidade. Ao trazer para a consciência o que antes era inconsciente, é possível começar a diferenciar o que é do outro e o que é nosso, e assim construir relações mais autênticas — menos baseadas em expectativas irreais e mais abertas à escuta, à diferença e ao afeto verdadeiro.


Se você percebe que essas questões têm feito parte da sua vida e sente vontade de compreender melhor suas relações e a si mesmo, a psicoterapia pode ser um bom caminho. Fique à vontade para conhecer mais sobre meu trabalho ou entrar em contato.


Prática de mindfulness: O que é meu, o que é do outro?


Quando estamos muito envolvidos emocionalmente numa situação — seja com alguém próximo, no trabalho ou mesmo só pensando em algo que nos incomodou — pode ser difícil perceber o que realmente está vindo do outro e o que estamos trazendo de dentro de nós. Essa prática simples pode ajudar a criar esse espaço de diferenciação:


Exercício: “O que é meu, o que é do outro?”


  1. Encontre um momento de pausa.Sente-se confortavelmente, com os pés apoiados no chão e as mãos descansando sobre as pernas. Se quiser, feche os olhos.


  2. Traga a situação à mente.Lembre-se de uma interação recente que te deixou desconfortável ou ativado(a) emocionalmente — pode ser algo pequeno ou algo mais marcante.


  3. Respire com atenção.Faça três respirações lentas, sentindo o ar entrar e sair. Não tente mudar nada, apenas acompanhe a respiração como um ponto de ancoragem.


  4. Pergunte-se, com gentileza:

    • “O que exatamente me incomodou nessa situação?”

    • “Isso que estou sentindo tem a ver exclusivamente com o que o outro fez ou disse?”

    • “Essa reação me lembra algo ou alguém do meu passado?”

    • “Estou esperando que o outro reaja como eu reagiria?”


  5. Nomeie, sem se julgar.Apenas reconheça: “isso é meu” (um medo antigo, uma expectativa, uma insegurança) ou “isso é do outro” (um comportamento que eu não controlo, uma escolha que ele/ela fez).


  6. Volte à respiração.Finalize com mais duas ou três respirações conscientes, deixando as respostas ecoarem internamente, sem precisar “resolver” nada.


Você pode fazer essa prática em cinco minutos. O mais importante é o gesto de atenção e curiosidade consigo mesmo.



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