O Peso da Mudança e a Coragem de Recomeçar
- Pedro Gatti Lima
- 15 de set.
- 2 min de leitura

Mudar de país é carregar nas malas não apenas roupas e documentos, mas também sonhos, medos e uma infinidade de cenários que a mente insiste em criar. Entre a expectativa de um novo começo e a incerteza do que ainda não está garantido — como a chave da casa que ainda não tenho em mãos — nasce uma ansiedade silenciosa, mas constante. É como se o coração quisesse correr à frente do tempo, enquanto a vida nos lembra que cada ciclo precisa ser vivido no seu ritmo: antes de abrir novas portas, também é preciso aprender a fechar algumas.
A ansiedade antecipatória se manifesta nesses momentos: antes mesmo de algo acontecer, já nos vemos vivendo e sentindo o futuro. A mente corre, cria possibilidades, imagina riscos, prepara respostas — e o corpo reage como se tudo já estivesse acontecendo agora. Esse movimento interno pode ser exaustivo, porque nos prende entre o que ainda não chegou e o que já não existe mais.
Encerrar ciclos é um desafio silencioso e profundo. Não se trata apenas de se despedir de uma casa, de uma cidade ou de um país, mas de lidar com tudo que simbolicamente deixamos para trás: hábitos, pessoas, versões de nós mesmos que já não cabem no presente. E se fechar portas pode doer, abrir novas também assusta, porque o desconhecido traz consigo tanto o frescor da novidade quanto a insegurança do incerto.
É nesse ponto que a terapia se torna um espaço fundamental. Um lugar de pausa em meio ao turbilhão, onde podemos elaborar as despedidas, acolher as incertezas e encontrar recursos internos para atravessar as transições. Na terapia, aprendemos que não precisamos carregar sozinhos o peso da ansiedade antecipatória; podemos explorar nossos medos e expectativas, organizar nossos pensamentos e nos preparar emocionalmente para o novo.
Viver como imigrante intensifica essa experiência: cada mudança de país traz a necessidade de se adaptar, de reconstruir laços, rotinas e identidade. É um convite constante à flexibilidade, à coragem e à paciência consigo mesmo. Para quem se interessa, compartilho um pouco da minha experiência nesse vídeo sobre a vida de imigrante: https://youtu.be/oF54tLmXqvs
Cada mudança, cada ciclo que se fecha e cada porta que se abre, é também uma oportunidade de nos aproximarmos de quem realmente somos e do que realmente desejamos. Mudar de país é, acima de tudo, aprender a habitar novas formas de ser, com coragem, atenção e compaixão por si mesmo. Mesmo que o caminho pareça incerto, atravessá-lo com consciência e apoio transforma cada despedida em aprendizado e cada começo em possibilidade.








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